E depois da formatura, qual vai ser?
Carreira acadêmica? Nossa... professor sofre
tanto, tem certeza?
Eu sempre quis ser professora - a paixão pelo
Jornalismo veio com o tempo, chegou de mansinho, instalou-se na cabeça e não
pude resistir. Mas a paixão por ensinar já nasceu comigo, fator hereditário.
Aqui em casa todo mundo é professor. E todos enchem a boca quando dizem a profissão,
em voz alta.
Dia desses, encontrei uma antiga professora do
ensino médio. Conversamos e, durante o papo, tentei mostrar o brilho da
profissão de jornalista, transmiti toda a minha felicidade por estar me
preparando para futuramente fazer algo que acredito, contei da luta que é mudar
de curso numa sociedade que, inconscientemente, impôs aos jovens um trajeto de
vida pré-definido.
O olhar, nesse ponto da conversa, era de decepção -
uma aluna tão estudiosa, por que não foi fazer um curso melhor?
Minha resposta não foi dada em voz alta. O meu
olhar foi lustrado com o tempo, após tantas críticas ele brilha de orgulho e
ela percebeu que não existia curso melhor, pelo menos para mim.
A conversa caminhou até o meu futuro como
profissional.
Futuro é algo que está por vir, ainda não existe,
mora alí na caixa das incertezas. Futuro é a morada das impossibilidades, dos
medos. É uma "saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi". Mas
ela insistiu em ganhar uma resposta.
Disse que pretendia entrar no Mestrado. Seguir
carreira acadêmica.
O olhar, nesse ponto da conversa, era de
desaprovação - tantas opções de carreiras e você escolheu justo a pior?
Professor sofre muito.
O meu olhar lustrado pelas críticas tornou-se opaco
por um segundo.
O professor de hoje em dia não é capaz de lembrar
do poder que tem em mãos. Apesar de todos os obstáculos, das dificuldades do
sistema educacional brasileiro e de toda a sujeira política jogada por debaixo
do tapete da educação, não há arte mais nobre do que a de ensinar e transmitir
conhecimento.
Ensinar tornou-se negócio, há muito deixou de ser
paixão.
Professores que não olham nos olhos. Estão sempre
correndo, afinal, o que importa é o número de artigos publicados, não mais o
número de alunos conquistados.
Professores que não abrem um espaço de ternura no
cotidiano apressado, difícil e, eventualmente, cruel.
E a postura do educador só piora com o subir dos
degraus da escada de formação a que somos empurrados.
Apesar do olhar de desaprovação daquela que deveria
ser exemplo, lancei o meu olhar de censura e minha vontade de ensinar cresceu
ainda mais.
Não quero reproduzir teorias em sala de aula e sair
de lá culpando os alunos, o governo, a universidade - quero ser apoio, educação
é amparo para não nos afogarmos na primeira onda e, por isso digo, educar é
grave responsabilidade.
Falta de amor e atenção pode ser uma emergência,
professores.
Deixar aberta a porta dos diálogos não
convencionais, com hora marcada no departamento, mas no fluxo habitual do interesse
e do carinho. Afinal, preparar alguém como cidadão e profissional não se faz
com frases prontas, mas convivendo. Se faz sendo humano, sendo terno, generoso,
firme e ético.
Sendo gente.
Afinal, professores, apesar do tempo curto que
vocês tanto alegam, vocês também são gente.
Eu poderia virar as contas e encarar aquela
conversa como um desestimulo ou poderia erguer a cabeça e caminhar em busca
daquilo que acredito.
Escolhi a segunda opção.
E para os professores que teimam em desestimular
aqueles que querem seguir seus passos: relembrem o que realmente é educar e
sintam orgulho de ser o que são.
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