terça-feira, 29 de julho de 2014

Eram dois. De repente, um.

Insegurança e medo camuflados em meio a frases sem sentido. O problema não é você - são as circunstâncias, minha agenda que não bate com a sua, nossas personalidades diferentes. 
Uma estrada percorrida até a bifurcação. 

Ela era forte. Preferia a tranquilidade de um sorriso ao tumulto dos comentários exaltados nas fotos do casal. Não gostava de padrões.
Relacionamento, para ela, era mais que um status virtual - era tato, saliva e suor. 
Era entrega. Dançar na superfície para logo mergulhar naquelas águas escuras, sem medo de estourar os tímpanos. 
Beijar sem medo de fechar os olhos por completo. Esquecer do redor. 
Para ela, não existia receita ou roteiro a seguir. 
Ela escolheu viver sem saber o que vinha depois. 

Ele era forte. Preferia a certeza do vazio da solidão à falta de controle. Não gostava de surpresas. 
Relacionamento, para ele, era coisa trivial. Todo mundo arranja alguém para postar-se ao lado na hora das fotos familiares no Natal.
Era contrato. Era preciso ter qualidades que fizessem a balança pender para os pontos positivos. O cheiro, o olhar, o sorriso lhe causavam sensação estranha, mas mergulhar no desconhecido lhe causava medo, por isso caminhava no raso preferindo as boas maneiras, a educação e as circunstâncias favoráveis. 
Para ele, não existia peculiaridades. O fluxo vital já estava pré-definido. 

Ela, ao mergulhar, afogava-se muitas vezes - tinha muito mais de sete vidas.
Afogava-se e tranquilizava a respiração, para então mergulhar outra vez. 
Conheceu profundidades escuras, mas também chegou ao paraíso reservados aos que tem coragem de prender o fôlego e continuar, quantas vezes for preciso. 

Ele, ao permanecer na zona rasa e segura, nunca engoliu uma gota d'água. 
Nunca gastou nenhuma de suas vidas e nem conheceu caminhos incertos - que poderiam encher seus pulmões e carregá-lo ao fundo sem chance de volta, mas também não conheceu o mistério de oferecer todo seu tesouro sem receio de perder uma só moeda. 

O maior inimigo do sentir é o medo. 
Ela, apesar de todos os monstros que enfrentou, colocou-os sob a cama e ali fez com que permanecessem. Preferiu sentir. Ele, o medo. 

Ela não tinha um comportamento igual ao de todas as outras. Não gostava do top 100 da Billboard e nem de blockbuster. Vivia sua vida sem saber ao certo o que viria após virar a esquina. Enfrentava a corda bamba só para sentir a queda, vento nos cabelos. 
Apesar de toda incerteza, restava uma convicção: não havia caminhos mais belos quanto os do seu coração. 
Ele soltou as mãos. Achou a estrada complicada demais. Intensa demais. E, caramba, como ela fazia questão de ser intensa!

Ele seguiu o seu fluxo vital pré-definido. Ela afogou-se - mais uma vez, para retornar a superfície e continuar caminhando entre buracos incertos, até chegar onde seus sonhos a conduzirem. 
E, assim, ela seguiu cantarolando aos sete mares que eles têm medo da intensidade - medo de sair da linha e perdê-la por completo. 

Essa vai para uma amiga que já gastou muitas vidas e, ainda assim, recuperou os pulmões. 
E também para todas aquelas que, por serem intensas e donas de si, injustamente têm os dedos das mãos soltos, sem entrelaçar com outros dedos de outras mãos. E, porquê não, para todos os "eles" que se entregam e encontram por aí muitas "elas" que tem medo de se molhar - é só questão de flexão pronominal.



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