terça-feira, 29 de julho de 2014

O assalto


A maioria das pessoas, sentada em frente ao computador ou jogada no sofá assistindo a um programa qualquer, nunca desvia os olhos da tela e os direcionam para dentro, reconhecendo quão frágil é nossa existência. 
Dentro de casa, cercada por muros, altos o suficiente para cumprir seu dever de nos isolar, heterogeneizar os problemas internos dos externos, nossa vida nos parece tão concreta quando a massa que une os tijolos. 

A vida não é concreta. Escorre. Sublima.
O ser humano tem como característica intrínseca estar constantemente descontente. Nossa produtividade aumenta quando novos desafios são impostos. 
Você pode ter um emprego legal, um bom relacionamento, morar num apartamento grande o suficiente para comportar todos os seus sonhos, mas o sentimento de querer sempre mais não quer soltar suas mãos. A grama do vizinho é sempre mais verde, ainda que, olhando de forma clínica, esta esteja precisando ser aparada urgentemente. 

Você pode apresentar argumentos suficientes para que eu considere sua vida um porre, jogue-os todos fora. 
Sua vida pode ter milhões de defeitos, estar por um fio, mas, um sopro de ar já é vida, poeticamente falando. 
E, apesar de parecer piegas, qualquer fio de vida deve ser aproveitado.

Qualquer vida é efêmera, deixando de lado classe, cor, padrão social. Qualquer sentimento é efêmero, a menos que estejamos dispostos a fazê-los durar. A vida também. Fazer durar a vida é viver, apesar de. 

Hoje um grande sentimento de felicidade me preencheu por completo. Dos pés à cabeça. Transbordando. 
E, efêmero como é, borbulhou e foi sugado pelo cano de uma arma. 
Num momento você está lá, imaginando que ainda tem muito tempo pela frente para comer quantos sushis e sashimis quiser. Em outro momento, o restaurante é assaltado. 

Sushis e sashimis não são eternos. A vida também não. 
Agradeça por ainda ter amanhã, todos os dias.


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