Passamos, durante toda
nossa infância e juventude, por um processo educacional falido, com mais falhas
que ensinamentos. Somos forçados a engolir as imposições de um sistema de ensino-aprendizagem
que não se preocupa em formar consciência crítica, mas apenas em acumular
conteúdo em alguma caixa imaginária que alguns pedagogos modernos - e aqueles
nem tão modernos assim - pensam existir no interior de nossas
cabeças.
Chegamos ao ensino médio, seguido do famoso ano de
cursinho, absorvendo conteúdo sem filtro, quase nada faz sentido e nem está
ligado à experiência viva dos estudantes. Perda de tempo. Tudo aquilo que,
supostamente, é "ensinado" e, supostamente, é "aprendido",
logo cai no esquecimento.
E eu acrescento: a culpa não é deles, dos
cursinhos. É dos vestibulares - esse estúpido sistema que muito contribui para
a ruína da educação.
Por isso eu não dou a menor importância às
fotografias dos que passaram em primeiro lugar.
O vestibular é um processo seletivo que não
seleciona ninguém.
Um sinal claro: o trote. Não o trote de alegria,
colorido, cheio de tinta e de sorrisos.
Mas o trote violento, regado de bebida alcóolica e
humilhação. O trote hierárquico, racista e machista, que, assim como
Dimenstein, sinto vontade de vomitar a cada vez que ouço um relato ou vejo uma
cena/fotografia relacionada a isso (http://goo.gl/TaKlCy)
Trote violento e humilhante é falta de educação,
fator que deveria ter sido desenvolvido durante todos os anos que passamos
sentados naquelas carteiras desconfortáveis de madeira. A escola, há muito,
deixou de ser a casa da educação, para ser a casa da competição - tudo para
derrubar os outros na lista do vestibular.
Desde quando se aprende por competição? Aprendizado
é fruto do prazer. Há prazer em aprender, eu juro. E, as escolas e cursinhos
que me desculpem, mas eu tenho nojo de quem coloca o lucro e a propaganda acima
do desenvolvimento educacional e pedagógico eficiente de um aluno.
Eu, enquanto aluna do ensino médio, sempre tive a
ilusão de que as listas de aprovação só continham os melhores. Aqueles que
mudariam o rumo desse país, aqueles que seriam detentores de um poder
intelectual capaz de lutar para que a sociedade diminuísse o ego e aumentasse o
senso crítico.
Errei. E errei feio.
Vejo futuros comunicadores obrigando meninas a
simularem sexo oral na Av. Paulista, vejo futuros médicos embebedando meninos e
meninas, cuspindo na cara deles, vejo futuros engenheiros humilhando. Vejo o
futuro das profissões ruindo nas mãos e nas ações de alguns.
A hierarquia, que antes era entre professores e
alunos, hoje acontece entre alunos e alunos, o que derruba o conceito
fundamental para que haja respeito mútuo entre as pessoas: ninguém é melhor que
ninguém pelo simples fato de estar no segundo, terceiro, quarto, quinto ou
sexto ano de faculdade. Ninguém pode humilhar aquele que está chegando, aquele
que sofre com a adaptação à cidade nova, aquele que tem medo do primeiro dia de
um sonho.
Assim como o Dimenstein, sinto vontade de vomitar.
Tenho nojo de pessoas que promovem o trote
vexatório.
Tenho asco daqueles que amedrontam, daqueles que
intimidam, daqueles que não entenderam o real papel de um veterano: expor o
quanto a faculdade muda nossas ideias, nos transforma, nos dá independência.
Tive muita sorte com meus veteranos, seja na Usp,
seja na Unesp. Nunca passei por nenhum trote desse tipo. Pelo contrário, criei
laços.
Trote violento não é integração. Trote violento é
demonstração de ignorância.
Não continuem com essa tradição sem fundamento,
futuros calouros e veteranos.
Não continuem com a ilusão de que humilhar o outro
é necessário. Pintem, riam junto, ajudem.
Vocês, veteranos que praticam o trote vexatório e
violento, é que são uns merdas - e não aquele calouro em cima da cadeira que
vocês insistem em humilhar.
Parabéns, comissão dos bixos de Jornal 2014 da
Faac, vocês sim é que estão promovendo integração e alegria. Colorindo o
primeiro dia do sonho de muitos calouros - a entrada na universidade.
Que o trote seja cada vez mais colorido.
E que os primeiros dias de aula cada vez menos
cinzas.
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