terça-feira, 29 de julho de 2014

Lar é estado de espírito


Chego em Catanduva, são 18h de uma sexta-feira qualquer e, num piscar de olhos, já acabou o almoço de domingo. O maior inimigo daqueles que se amam é, com certeza, o relógio de parede que, como diria Mário Quintana, é um animal feroz que devora gerações. 
Eu corria contra o tempo quando estava em casa. 
Mas, afinal, o que e onde seria essa casa? Esse lar que insistimos em sempre querer voltar? 
Seria o local onde passamos os dias da semana, rotina? Ou então aquele lugar para onde fugimos aos finais de semana em busca de paz, tranquilidade e colo de mãe? 

Só aqueles que possuem vidas fragmentadas por estradas conhecem a dor de não saber exatamente aonde pertencem. Depois de um tempo sem ter um lar definido para chamar de meu, aprendi que essa casa que tanto buscamos não é um local: é um estado de espírito. 
Na verdade, estar em casa é se sentir à vontade consigo mesmo. 

Hoje tenho várias casas - a urgência por voltar para Catanduva ainda bate à porta, mas, há um tempo, deixou de ser angustiante. 
Hoje sei que o tempo passa rápido, mas, em contrapartida, também descobri que dentro de um segundo existe uma infinidade de momentos - e que posso utilizar todos eles ao meu favor. Mesmo que seja pouco, o tempo, com seus segundos infinitos, proporciona vivências únicas.

Portanto, não corro mais contra ele quando estou exatamente onde gostaria de estar, agora o transformei em aliado e, em toda sua infinidade, guardador de memórias: eu sei que vou partir muitas vezes ainda e para muitos outros lugares, perto ou longe, mas, quando estou aqui, ou em qualquer lugar da lista dos que me fazem bem, sei que tenho abraço de mãe, sorriso e café de vó, família, porto-seguro e pessoas queridas - coisas que nunca são devoradas pelo relógio de parede, que permanecem guardadas e sempre farão parte desse espaço que eu decidi chamar de lar. 
O tempo deixou de tragar instantes e passou a acumulá-los - amontoado de memórias para não deixar esquecer as importâncias da vida. 

Lar, nesse caso, vai comigo onde quer que eu esteja, porque, quando fazemos as pazes com o tempo, ficamos à vontade com nós mesmos.


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