Chego em Catanduva,
são 18h de uma sexta-feira qualquer e, num piscar de olhos, já acabou o almoço
de domingo. O maior inimigo daqueles que se amam é, com certeza, o relógio de
parede que, como diria Mário Quintana, é um animal feroz que devora gerações.
Eu corria contra o tempo quando estava em casa.
Mas, afinal, o que e onde seria essa casa? Esse
lar que insistimos em sempre querer voltar?
Seria o local onde
passamos os dias da semana, rotina? Ou então aquele lugar para onde fugimos aos
finais de semana em busca de paz, tranquilidade e colo de mãe?
Só aqueles que possuem vidas fragmentadas por
estradas conhecem a dor de não saber exatamente aonde pertencem. Depois de um
tempo sem ter um lar definido para chamar de meu, aprendi que essa casa que
tanto buscamos não é um local: é um estado de espírito.
Na verdade, estar em casa é se sentir à vontade
consigo mesmo.
Hoje tenho várias casas - a urgência por voltar
para Catanduva ainda bate à porta, mas, há um tempo, deixou de ser angustiante.
Hoje sei que o tempo passa rápido, mas, em
contrapartida, também descobri que dentro de um segundo existe uma infinidade
de momentos - e que posso utilizar todos eles ao meu favor. Mesmo que seja
pouco, o tempo, com seus segundos infinitos, proporciona vivências únicas.
Portanto, não corro mais contra ele quando estou
exatamente onde gostaria de estar, agora o transformei em aliado e, em toda sua
infinidade, guardador de memórias: eu sei que vou partir muitas vezes ainda e
para muitos outros lugares, perto ou longe, mas, quando estou aqui, ou em
qualquer lugar da lista dos que me fazem bem, sei que tenho abraço de mãe,
sorriso e café de vó, família, porto-seguro e pessoas queridas - coisas que
nunca são devoradas pelo relógio de parede, que permanecem guardadas e sempre
farão parte desse espaço que eu decidi chamar de lar.
O tempo deixou de tragar instantes e passou a
acumulá-los - amontoado de memórias para não deixar esquecer as importâncias da
vida.
Lar, nesse caso, vai comigo onde quer que eu
esteja, porque, quando fazemos as pazes com o tempo, ficamos à vontade com nós
mesmos.
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