terça-feira, 29 de julho de 2014

A chave


A chave para adentrar no universo da escrita, da leitura de sonhos reais, impossibilidades possíveis, não é como aquela pendurada no bolso do vestido florido de sua avó; ou aquela pequenina e arredia, que sempre desaparece quando sua mãe sai para o trabalho. 
A chave não é feita de nenhuma liga metálica, não é dourada ou colorida. A chave, não visível, reveste-se de compreensão. 

Quando você começar a enxergar e sua compreensão lhe permitir perceber que ler é muito mais que unir formas e símbolos, ou encontrar frases e orações; quando você compreender que palavras são mais que simples conjuntos de letras e, por fim, estar clara a imensidão e o horizonte sem fim de uma história de poucas ou muitas linhas - é nesse momento que você, assim como as próprias palavras, atingirá a maioridade literária. Maioridade com maturidade, independentemente da rima. 

A maioridade é só mais uma das tantas classificações humanas para dividir fatos e temporalidades subjetivas. É só mais uma das tantas tentativas humanas de organizar aquilo que não é organizável. 
Subjetividades que concentram toda sua beleza em sua bagunça, mistura de cores. 

Não há idade numérica exata para compreender a escrita e o sentimento real que ela proporciona naquele que a aceita como parceira de dança. Só é preciso compreender. 

A fechadura, muito mais que um simples vazio numa forma de madeira, pede que, antes de desejar abrir um espaço, haja abertura para compreendê-lo.

Leitura que é só lida não tem magia. 
As crianças, desde cedo, são apresentadas à uma leitura feita pra ser lida, encarando-a como obrigação.
Leitura, seja nessa ou em qualquer história, tem que ser prazer. 
Ao contrário do que muitos dizem, as pessoas leem muito.
Leem, mas permanecem na superfície. Não mergulham. 
Leem e não enxergam o encanto por trás da penumbra da pressa e impaciencia. 

Leitura tem de monte. O que falta é compreensão.

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