terça-feira, 29 de julho de 2014

Dos olhares e outras coisas




Com quantos olhares você cruza todos os dias? 
Quantos deles você tenta decifrar?



Aquele olhar cansado logo pela manhã, acompanhado de um par de olheiras, um soco do sono que insiste em ficar. 
Olhares de pedra. Daqueles fixos, inflexíveis, que não se dão ao luxo de olhar ao redor, resumindo o mundo todo em um único ponto.
Olhares cheios de brilho. Brilho translúcido, colorido, luz que afasta toda a névoa; ou brilho opaco, sombrio, lágrima que bagunça todas as cores, unindo-as num tom parecido com o da calçada da casa ao lado, tantas vezes pisada e esquecida. 
Um olhar distraído, refletindo nuvens, nas quais viaja para outro lugar qualquer. 
Olhar impaciente, relógio de pêndulo, tic tac, os segundos avançam e levam consigo a paz que antes morava alí naquela mistura de castanho e mel. 
Olhar descontente da moça do balcão, olhar distante do porteiro da noite, olhar angustiado que cruza com o seu na porta do elevador. Olhar iluminado da mãe que encontra o filho na porta da escola, olhar apagado do filho que sente saudade de quando ainda cabia no colo da mãe. 

Não é preciso saber nome e endereço para ter permissão para adentrar na privacidade de uma pessoa. A permissão é dada quando o outro cruza o olhar com o seu, gasta alguns segundos abrindo a janela para que você possa enxergar sentimento adentro. 
Olhar nos olhos de outra pessoa é compartilhar. 
Desabafar sem palavras. Chorar sem lágrimas. Sorrir sem riso. 

Quantas sensações cabem nos olhos de cada um? 
Quantas dores e alegrias podem ser guardadas nessas caixinhas redondas que mudam de cor do fitarem o sol?

Um olhar é a parte do todo que cada um guarda dentro de si.

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