Maldito seja o dia em
que resolver problemas pessoais ou profissionais por meio de redes socais virou
coisa trivial.
Problema pede olho no olho. Tom de voz.
O amigo diz que quer contar uma novidade, a
notificação grita bem na hora em que o outro precisa sair apressado. A
resposta? A resposta não pode esperar. Com pressa, o outro se esquece de um
ponto de exclamação, ou de mandar um sorriso ao final
da frase.
Fim da amizade. Como é possível um amigo de anos
enviar uma resposta sem nenhum entusiasmo diante de tanta euforia do outro?
A namorada decide ter uma crise romântica, a
notificação grita e o namorado, certo de que seus sentimentos são certos e
sabidos pela companheira, esquece-se do vocativo carinhoso, ou de colocar um
coração ao final de um "eu também" morno e perdido no meio de um
diálogo desconexo.
Fim do amor. Como é possível receber uma resposta
sem nenhum carinho diante da demonstração de tanta paixão?
O colega de trabalho resolve pedir um favor, a
notificação grita e o outro simplesmente desenvolveu um jeito sério de
escrever, respondendo de forma objetiva.
Fim da harmonia. Como é possível ser tão rude com
uma pessoa que divide tarefas e projetos?
A escrita exige de cuidado. O autor preocupa-se com
o leitor a cada enunciado, cada parágrafo é construído para afagar quem o lê.
Quando a escrita é cuidadosa, ela abraça, acalma.
Ao abrirmos uma janela com a foto do outro, nunca o
enxergamos como um leitor que desenvolverá sensações e sentimentos a partir das
palavras que saltarem a seus olhos. Sem cuidado, a escrita vira folha de papel,
afia-se e corta quando menos se espera.
As redes sociais, ao contrário do que dizem, não
aproximam amigos, namorados e colegas de trabalho. As redes sociais são
traiçoeiras.
Um ponto de exclamação a menos e você corre o risco
de encarar uma crise de relacionamento.
Uma pena que não seja possível transmitir o tom de
voz, o olhar e a expressão por meio de uma mensagem enviada pela internet ou
pelo celular. Nunca saberemos, de fato, como o outro lado reage às nossas
mensagens.
Maldito seja o dia em que escrever de forma correta
e objetiva passou a ser sinônimo de grosseria.
Maldito seja o dia em que sinais de pontuação e
figuras ilustrativas postas ao final das frases passaram a valer mais que o
real sentimento existente entre duas pessoas próximas que, ao ignorar a
presença e deixar o telefone fora do gancho, caíram na ilusão de que uma mensagem
cheia de abreviações poderia, um dia, suprir o calor de um abraço apertado.
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