terça-feira, 23 de agosto de 2016

A gente anda tão triste




Naquele ponto de ônibus tem tanta tristeza. Caramba!
Depois das seis, o desalento escorre pelos olhos. Água em correnteza para diluir toda a paleta de cores da alegria. Lava de qualquer jeito, deixando resquício sujo para o amanhã. Se eu pudesse escolher uma trilha sonora para o entardecer, seria Radiohead. Posso imaginar Like a Stone tocando no fone deles sem parar. Um gosto de não-estar invadindo-lhes a boca, sendo empurrado garganta abaixo para preencher o vazio de um estar-aqui não desejado. Depois das seis, o presente bate à porta. A gente anda tão triste.
Por que é que, depois das seis, a pálpebra insiste em pesar?

Disseram que é só cansaço. Não pode ser. Cansaço não tem mãos firmes para apertar a alma no lusco-fusco, sufocando-a. É covarde. Fruto de esforço mal recompensado. Falando nele, acho que é a causa de tudo, o lusco-fusco. Isqueiro que incendeia a melancolia que existe em nós. Não pode ser cansaço. Like a Stone é Audioslave, lembrou-me a voz do Chris Cornell. Isso é cansaço. Confusão. O resto é tristeza. 
Depois das seis, motores cessam e nós, robôs de carne e alma guardada para depois, somos obrigados a saborear o agora. Acho que desaprendemos. Ou foi alguém que nos roubou esse instante? Fomos assaltados à meia luz. A gente anda tão triste.

Depois das seis, esquecemos como é que se faz. Vagamos no abismo entre aquele antes singular, que sustenta nosso ser, e um depois qualquer, que aceitamos sem pestanejar, sem analisar, sem querer. Naquele ponto de ônibus, enxerguei tanta tristeza e nenhum agora.
Quem foi que roubou nosso presente?

Nenhum comentário:

Postar um comentário