terça-feira, 23 de agosto de 2016

Machado vive!



Quando preparo uma aula especial sobre Machado de Assis, num dia chuvoso acompanhado de camomila com cidreira, - e faço questão de extrapolar o conteúdo programático para destinar o tempo que esse mestre mulato merece, redescubro alguns dos motivos que me levam a amar a Literatura. E mais: relembro o porquê de eu me esforçar tanto para compartilhar conhecimentos literários com meus alunos da forma mais bonita possível.

Machado coloca cada parte do seu ser nos escritos. Desmembra-se para compor enredos. Perto da época em que programo a aula, releio algumas de suas obras. Uma seguida da outra. Overdose machadiana. Nesses tempos, sinto como se ele estivesse ali, falando aos meus ouvidos. Uma aula particular de imortalidade. Conta sobre seu tempo, dores e amores nas entrelinhas. Ensina-me muito sobre a escrita, mostrando que o filho do operário mestiço também pode ter seu nome na capa. Machado, quando o leio, vive.
Eu ainda tenho a mania de preparar a aula com papel e caneta. Gosto das rasuras, pois me mostram que, naqueles espaços em brancos, é a voz do aluno que fará morada. Enquanto rabisco a folha nua, faço um pedido. Desejo que todos os ouvintes de minhas histórias possam, então, tornar-se amigos de Machado, como eu me tornei anos atrás. Devorando-o. Mastigando-o. Digerindo-o para, finalmente, compreender sua imensidão e beleza. 
Quero que meus alunos sintam a presença do mulato e leiam suas obras por prazer, esquecendo das obrigações. 
Na verdade, o pedido é egoísta; quero crer que não estou louca e que sua voz pode, de fato, ser ouvida ao virar das páginas. Quero que façam Machado viver.

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