terça-feira, 23 de agosto de 2016

Quando precisar de um absorvente, não precisa sussurrar



Quando menstruou pela primeira vez, a mãe aconselhou-a a não contar o fato. Há uma época em que somos perseguidas. A menarca é pauta quente e todos querem saber qual colega de sala sangrou primeiro.
Nos primeiros meses, as aulas de educação física deixam de ser diversão e tornam-se torturas lentas. Não sabemos lidar com aquele absorvente desconfortável entre as pernas. Corremos de forma estranha e o suor é preocupação que, de tanto existir, não cabe dentro de nós. O medo de que uma gota saia dos limites é permanente. Menstruação é assunto proibido.
A vergonha de menstruar é hereditária. A mãe ensina que a filha deve ser discreta, principalmente na frente dos homens, os quais crescem enojados de nós.
Lembro-me de um dia, na sexta série, que hoje é sétimo ano, em que eu precisava ir ao banheiro e levar comigo o absorvente. Permaneci sentada durante todo o intervalo, só para não correr o risco de que alguém visse aquele pacotinho em minhas mãos. Lembro-me de vários dias. Dias em que me senti incomodada por ser mulher.
Há pouco, fui ao banco. Uma adolescente de semblante fechado discutia com a mãe. Falava aos sussurros. Olhavam ao redor, como se estivessem cometendo um crime. A menina se desfez do moletom, ainda que a temperatura lhe fizesse arrepiar. Colocou o moletom na cintura e cruzou os braços. Eu, que estava por perto, ouvi um trecho da conversa - ela esquecera o absorvente e estava em apuros. Ofereci um que tinha em minha bolsa. A mãe agradeceu, torcendo para que a entrega fosse rápida. Ela estava incomodada por ser mulher.
No sexo, a história se repete. Quando não há compromisso, a mulher sente-se na obrigação de comunicar o parceiro sobre a situação. Já ouvi dezenas de relatos de encontros desmarcados e mulheres frustradas, sentindo-se culpadas pelo fato inevitável.
Se já estão em uma relação estável, não é muito diferente - a mulher, naqueles dias, corre, muitas vezes, o risco de ter seu prazer negligenciado porque o parceiro alega nojo e desconforto.
Fizeram-nos sentir vergonha de nossa condição natural, esconder o absorver à sete chaves e, em hipótese alguma, falar sobre menstruação como falamos sobre qualquer outro assunto.
A mulher deixa de conhecer o seu próprio corpo quando pensa que as reações naturais devem ser censuradas.
Não tenho nojo de falar sobre menstruação, o meu nojo é fruto dessa mentalidade que nos faz sentir incomodadas e envergonhadas por sermos mulher.
Quando precisar de um absorvente, não precisa sussurrar. Pode dizer sem medo, mulher.
E, se ele disser que sente nojo de você, fuja. Nesse caso, lembre-se: quem fica enojada é você.

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