terça-feira, 23 de agosto de 2016

Responsabilidade compartilhada


Acabo de descobrir que uma possível justificativa para minhas dores de cabeça constantes, além de outras reações indesejadas, como as oscilações de peso e humor, que, ultimamente, dão as caras com mais frequência, é o uso do anticoncepcional.
Coincidentemente, deparei-me com uma discussão sobre o anticoncepcional masculino e a oportunidade de fazer os homens assumirem mais responsabilidade no controle da natalidade. Imaginei, por um momento, um mundo em que a mulher não carregasse grande parte do peso de uma gravidez sobre seus ombros. Uma revolução comportamental e sexual.

Infelizmente, a fuga da realidade durou pouco. Ouvi um homem dizer que não entupiria seu corpo de hormônios. Outro, da área da saúde, afirmou conhecer os malefícios e, portanto, não arriscaria a produção de sua testosterona.
A questão aqui, no entanto, não é fisiológica. O uso exclusivo do anticoncepcional por mulheres é resquício do machismo. É uma questão de gênero.

Ninguém franze o cenho quando um homem diz em alto e bom som que foge de um filho indesejado. A mulher, ao contrário, sente na pele toda a desaprovação. 
Precisamos colocar avisos, bilhetes cor de neon, despertador no celular e engolir, dia após dia, sem atrasos, aquele comprimido que dança na palma da mão, desejando saltar para qualquer lugar que não para o interior de nossa boca. Estamos proibidas de falhar. 
Se o teste der, por acaso, positivo, envergamos rumo ao chão, tamanho o peso da incumbência que nos fizeram carregar.

A mulher é vista desde sempre como receptáculo da maternidade. É inaceitável desviarmos do padrão e escolhermos seguir por outro caminho. 
Se quisermos evitar uma gravidez, que seja o nosso corpo aquele a ser entupido por hormônios. Afinal, homem não engravida, logo não tem nada a ver com isso, certo? Errado.

E quando ele não quer usar camisinha? A responsabilidade também não é dele, ainda que o método não seja exclusivamente contraceptivo, certo? Errado. 
É como um ritual: tira isso, joga aquilo e, quando estão quase lá, ele pergunta se você toma remédio. 
A camisinha atrapalha. Ele, pobre coitado, não consegue sentir prazer. Diz que confia em você, mas se esquece de que o anticoncepcional pode ser responsável pela diminuição significativa da libido feminina. Ao contrário do dele, seu prazer, mulher, pouco importa. A contracepção é problema seu.

Veja bem, agora pense no inverso: nós quase nunca temos o direito de dizer que não queremos tomar os comprimidos, temos? Você já parou para refletir que se expressarmos tal desejo, corremos o risco de que alguém questione nossa sanidade ou inteligência?
Pois eu digo: não se submeta à tortura diária. Se o seu corpo não aguentar, não colecione cartelas vazias. Quando a dor de cabeça ou qualquer outro sintoma não der tregua, dê um tempo ao organismo. 

Fecundação nunca foi serviço solitário e a responsabilidade não é só sua, mulher. Ele também pode evitar, acredite.

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