terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Lucíola

Lucíola, de José de Alencar, foi publicado em 1862. Conta uma história da década de 50 do século passado. Paulo conheceu Lúcia na Festa da Glória, despretensiosamente. Lúcia era cortesã de luxo, a prostituta mais cobiçada do Rio de Janeiro. Paulo, de acordo com Alencar, um jovem ingênuo, considerado o caminho da redenção de Lúcia. Em um dos encontros, Lúcia que, mais tarde, admitiu ser Maria da Glória, engravidou. Adoeceu por acreditar que seu corpo era sujo e morto, indigno da criança, consequência do preconceito moral e social que sofrera ao longo dos anos. 
Lúcia sofreu um aborto e, ante a recusa de tomar remédio para expelir o feto sem vida, faleceu de infecção. O aborto foi o castigo de Lúcia por ser mulher livre. Culpava-se. Culpavam-na. A morte, consequência metafórica de suas escolhas. 
José de Alencar matou sua cortesã e fez de Paulo um herói, que, desconsolado, recebeu apoio social pela perda do amor de sua vida. A história de Lúcia, suas batalhas para manter viva a família, que sofria de febre amarela, tornaram-se detalhes insignificantes da obra.

A história é da década de 50 do século passado. Hoje, centenas, milhares, milhões de Lúcias por ano. Morrendo como castigo. Abandonadas por suas escolhas. O pai, ainda herói. A bagagem de vida da mulher, sempre irrelevante.
Na ficção da primeira geração do Romantismo, Lúcia e Iracema ganharam desfechos trágicos. Na vida real, mais de um século depois, continuamos a tragédia. Matamos clandestinamente neste Brasil - ainda - idealizado.
No país romântico e machista de José de Alencar, a mulher não tem escolha.

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