Lucíola, de José de Alencar, foi publicado em 1862. Conta uma história da década de 50 do século passado. Paulo conheceu Lúcia na Festa da Glória, despretensiosamente. Lúcia era cortesã de luxo, a prostituta mais cobiçada do Rio de Janeiro. Paulo, de acordo com Alencar, um jovem ingênuo, considerado o caminho da redenção de Lúcia. Em um dos encontros, Lúcia que, mais tarde, admitiu ser Maria da Glória, engravidou. Adoeceu por acreditar que seu corpo era sujo e morto, indigno da criança, consequência do preconceito moral e social que sofrera ao longo dos anos.
Lúcia sofreu um aborto e, ante a recusa de tomar remédio para expelir o feto sem vida, faleceu de infecção. O aborto foi o castigo de Lúcia por ser mulher livre. Culpava-se. Culpavam-na. A morte, consequência metafórica de suas escolhas.
José de Alencar matou sua cortesã e fez de Paulo um herói, que, desconsolado, recebeu apoio social pela perda do amor de sua vida. A história de Lúcia, suas batalhas para manter viva a família, que sofria de febre amarela, tornaram-se detalhes insignificantes da obra.
A história é da década de 50 do século passado. Hoje, centenas, milhares, milhões de Lúcias por ano. Morrendo como castigo. Abandonadas por suas escolhas. O pai, ainda herói. A bagagem de vida da mulher, sempre irrelevante.
Na ficção da primeira geração do Romantismo, Lúcia e Iracema ganharam desfechos trágicos. Na vida real, mais de um século depois, continuamos a tragédia. Matamos clandestinamente neste Brasil - ainda - idealizado.
No país romântico e machista de José de Alencar, a mulher não tem escolha.
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