terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Bilhete da eternidade

E naquela segunda-feira chuvosa, de céu azul anil, você se foi. Foi o pôr-do-sol de nuvens carregadas mais bonito que eu já vi. O céu fez chover para escoar nossas angústias. E como choveu! Choveu por noventa anos.
Dizem que algumas pessoas, um tempo antes de morrer, afastam-se pouco a pouco. Tornam-se silenciosas, preparando os ouvidos daqueles que as amam. A voz vai ficando falha. Até calar.
Você desabrochou feito flor, vó. Abriu suas pétalas delicadas e voou. Foi cuidar de outros jardins. Semear, adubar e fazer florir o amor em nossos corações. Hoje, nasceu em mim a orquídea da cor do seu olhar.
Mágica na cozinha, deixou sabores. Temperou nossas vidas por noventa anos. Fez nosso paladar conhecer o lado bom da vida. Me ensinou que a cozinha italiana é a melhor do mundo. Minha saudade é só o lembrete de todo amor que compartilhamos.
Descansa, vó. Depois desses noventa anos, descansa. Sossega esses olhos. Cuida do nosso jardim. Continua me ensinando a enxergar a beleza dos outros. Transforma sua presença em cor. Pode ir.
Faço aqui uma promessa: vou continuar te fazendo sorrir. O mesmo sorriso que brotou quando você pegou meu primeiro livro em suas mãos já tão cansadas.
Vai, vó, mostra para o Universo a força das mulheres dessa família. Conta para os quatro cantos do mundo o quanto somos fortes. Eu fico, para continuar o que começamos juntas.
Ah! Como eu amei e amo você! Vá e leve minha gratidão por me ensinar a sentir assim.

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