terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Alecrim e Manjericão

Morar em apartamento é dividir uma vida com tantas outras e, ainda assim, permanecer só. Para os italianos, a palavra appartamento, que é quase homógrafa a nossa, vem de appartare, que, na tradução, significa separar, colocar de lado. No meu edifício, são quatro números por andar. Duas portas coladas de um lado, outras duas do outro. Tão coladas que, de início, confundia-me as fechaduras. Faz 8 meses que me instalei naqueles poucos metros quadrados e, desde então, fiz pouco contato com vizinhos. Quase nenhum. Meus horários, sempre tão caóticos, fazem-me abrir e fechar a porta quando o silêncio já se aconchegou em cada sofá daqueles aposentos, acariciando os cocurutos cansados da rotina. Morar em apartamento é oportunidade de fazer as pazes com a solidão que, contraditoriamente, torna-se fiel e, constantemente, única companheira dos nossos dias - está sempre ali, fazendo lembrar que apenas alguns tijolos nos separam da vida ao lado, mas, apesar da proximidade, não há, naquele espaço, nenhuma voz para fazer par no diálogo.
Eu não sou de apartamentos. De silêncios. De appartare. A vida e suas circunstâncias é que me obrigam a aceitar um universo apartado e empilhado sobre outros. Enquanto não posso caminhar em chão de terra batida, o jeito é amenizar o exílio da natureza. Convidar cores, cheiros, temperos e vidas a entrarem porta adentro. Dizer-lhes que são bem-vindos, os novos hóspedes.
No feriado, recebi visita permanente de dois caras verdes vistosos, o manjericão e o alecrim, que me permitem, ao fechar os olhos, imaginar campo aberto e tempo fresco. O manjericão traz um pouco da Itália dos meus avós. O alecrim purifica meu ar, lembrando-me de que há, naquele aroma, algo ou alguém para me acompanhar.
Plantas, ervas e flores são o conforto que o coração precisa quando me dou conta que, naquela ambiente, sou a moça do 34, ele é fulano do 35 e, na frente, mora a senhora do 36. O remédio para a frieza dos números é a vida em suas incontáveis formas.
Para quem mora em apartamento, qualquer célula viva é um respiro no sufoco que a ausência traz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário