terça-feira, 13 de dezembro de 2016

1604


Nos meus primeiros anos em Bauru, morei naquele edifício. O mais alto da região. Décimo sexto andar. Um amontoado de lembranças que arranha-o-céu. Nas madrugadas em claro, olhava pela janela do quarto, aquela moldura metálica, em direção à sacada de onde escrevo essa nota melancólica de sexta à noite. Encarava-a como quem gostaria de ser no tempo depois deste. Enquanto amaldiçoava os ponteiros do relógio, que teimavam em atrasar o final de semana, imaginava o que se fazia dentro deste apartamento de azulejos azuis e luzes sempre tão acesas. 
Hoje, a luz do décimo sexto (re)acendeu, depois de tanto tempo. Tornou-se morada de nova vida. O único ponto luminoso sob as nuvens carregadas de saudade. E desta sacada que guarda eu que quisera ser, meu olhar encontra uma silhueta feminina na janela, fitando o infinito fim de tarde. Uma união do que sou com o que costumava ser. Daqui, penso: s(era) feliz a menina do 1604?

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