domingo, 31 de agosto de 2014

Pensamento é tesouro de um só

No caminho da vida, a alma encontra outras mil e, raras as vezes, o encontro é forte o suficiente para carregar a marca da batida mesmo quando a estrada da outra trilha para além-olhos, lugar que não se vê daqui. 
Algumas dessas almas que nos atropelam têm passos lentos, percorrem grande porção do caminho ao nosso lado; outras, apressadas, correm para o além-olhos e, quando olhamos para o lado, só respiramos o rastro do poeira deixado por sua partida. 

A velocidade dos passos daqueles que entrelaçam seus dedos com os nossos em algum momento da trajetória é imprevisível, assim como o conteúdo da caixa lacrada que ela carrega como bagagem logo abaixo dos cabelos e, em alguns momentos, sob o peito, acompanhando o vai-e-vem do pulsar do coração. 
A caixa que, de tantos pensamentos, transborda pelos vincos, é fábrica de surpresas - mistura heterogênea de quereres, gostares, pensares, amares. E, mesmo que o outro abra uma fresta para que espiemos o mundo de sentimentos que existe em seu interior, ainda assim seria impossível abraçar o infinito de memórias que ela carrega.

Pensamento é o eu-abstrato. Eu que não se pode ver. 
E, por ser eu, primeira pessoa do singular, não satisfaz a curiosidade do plural. 

Por muito tempo quis saber o que tinha dentro da caixa daqueles que esbarravam em mim e, por muitas vezes, dei de cara com um cadeado maior que minha intromissão - muitos dos quais tentei arrombar à força. 
Caixa de pensamentos com cadeado quebrado perde o encanto. Sorte daqueles que descobrem que a curiosidade é o que mantém a vontade de deixar o outro caminhar junto.
Não dá pra saber se esse outro deseja entrelaçar os dedos com os seus na mesma intensidade que suas mãos desejam ser conduzidas, assim como não podemos prever quão rápidos serão seus passos - caminho de surpresas, mas são elas as responsáveis pelo encantamento: o não saber o que está por vir e seguir juntos, vencendo o medo a cada passo, para o além-olhos de dois - lugar que não se vê daqui.
Mas, para quem vai junto, não existe mais aqui, só o lá. 

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