Voltando pra casa, entrei no ônibus lotado das 18h - eram tantas vidas, tantos rostos e tantas bocas, que suas histórias ultrapassavam dois que dialogavam e misturavam-se no ar, chegando aos ouvidos daqueles que se agarravam da barra metálica e fria para não cair no mar de gente.
Até mim, chegou a conversa de duas adolescentes sem rosto, apenas voz.
Ela tinha saído com ele na última sexta. Ele prometeu ligar.
Já era quarta e o telefone ainda não tocou.
A voz trêmula mostrava insegurança - e se ele não ligar?
Tive vontade de dar braçadas contra a maré, chegar até ela e responder a sua pergunta - se ele não ligar, ligue.
Não tive tempo de alcançá-la antes de chegar ao ponto final, mas queria que ela soubesse que a vida é curta para despejar a responsabilidade de ação no outro.
Ele não ligou, mas ela tinha o número.
Até quando as mulheres vão ter medo de discar?
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