Somos copo meio cheio, meio vazio.
Possuímos no fundo da alma o nada e o abundante em equilíbrio.
Quando copo meio vazio, externalizamos todo o nada guardado no baú de sentimentos - estresse, raiva, impaciência e grosseria. Somos metade, meio vazios.
A outra metade, no fundo do recipiente, contém líquido manso como o brilho das estrelas em noites tranquilas.
Quando copo meio cheio, transbordamos o abundante. Os melhores tesouros que carregamos vibram, querem fugir do dentro que os bloqueiam, atingir o outro que os provocaram.
As pessoas têm o poder de despertar o nada ou o tudo em nós.
Há muitos céus no íntimo de cada um, um céu para cada encontro da travessia. Porque o céu é local de reencontro com coisas que amamos e o tempo nos roubou - no céu está guardado tudo aquilo que a memória um dia amou.
O meu céu pode ser meio cheio, meio vazio; estar cheio de nada, ou vazio de tanto transbordar.
Pode ser um céu de fogo que, dizia Neruda, é a substância dos poetas.
Pode ser um céu de incêndio, que destrói poesias.
Fogo enfeitiça os olhos com suas chamas.
Há uma linha tênue entre a labareda mansa e a combustão descontrolada. As chamas começam a dançar frente aos olhos, os objetos vão perdendo os contorno e, ao final, tudo é fumaça.
Se a faísca no céu dançará lentamente ou perderá o controle, depende da intensidade do sopro parido dos lábios do outro.
As pessoas têm o poder de acender o fogo de sentimentos aconchegantes e de incendiar o céu, parte delas dentro de nós. Têm o poder de remar rumo à terceira margem do rio, que é a saudade de Riobaldo; e também o poder de seguir o fluxo das águas sem deixar o gosto da volta.
O fogo e a água que completa a metade do copo dançam conforme a música que exala a alma do outro - se harmoniosa, calmaria haverá; se desafinada, só o tumulto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário