domingo, 30 de novembro de 2014

Fidelidade é sorrir até a comida esfriar

Gosto de restaurantes - pela comida e pelas companhias indiretas que arranjamos ao escolher uma mesa qualquer. Gosto também de observar pessoas, não para lhes invadir a privacidade, mas para conhecer uma infinidade de mundos diferentes, singularizados em cada ato.

Hoje entrei num restaurante e sentei entre dois casais. A maneira como conversam durante a refeição pode dizer muito sobre o relacionamento. Um deles conversava e ria; misturado ao aroma do prato sobre a mesa, era possível sentir cheiro de amor vivo. Os outros dois, sentados na mesa ao lado, comiam em silêncio. Um olhando para o prato, outro para o celular - a comida, pela aparência, estava em ótimo estado, o amor foi que estragou. 

Outro dia, numa conversa de bar, tentou-se definir o conceito de infidelidade. Dentre as tantas respostas e definições, encontrei a minha ao encarar o silêncio do casal da mesa ao lado. 

Infidelidade é deixar o amor estragar e seguir o resto da vida olhando para o prato enquanto comem, sem rir nem conversar. E assim morrem, fiéis ao prato e infiéis à vida e à possibilidade do amor.

Meu pedido chegou antes de poder chegar à mesa deles e recolher a peteca de um jogo solitário - peteca que é lançada e o outro não devolve cai no chão. 
O silêncio e o hiato de sorrisos é a prova de que já não há jogo algum; e também a prova de que infidelidade não é só beijos, abraços e pensamento em outra pessoa. Infidelidade é continuar desviando o olhar para o prato; é deixar a peteca cair. 

Para o casal que sorria, mais um chopp; para os outros dois da mesa ao lado, a conta logo após a última garfada. 

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