Encontrei um certo alguém que jurou nunca ter chorado depois de certa idade.
O mesmo alguém jurou que isso o tornava forte - chorar é coisa de criança mimada.
Eu sempre gostei de lágrimas e tenho pena daqueles que não se permitem sentir o salgado contido em cada gota de alegria ou decepção. Daqueles que seguram o choro, impedindo o entusiasmo, paixão, e tristeza de escorrer pela face, marcando o caminho com o rastro de sal que chega à boca ao final do percurso.
Não imagino como seja a vida dos que obstruem os olhos para que não sejam reflexo d'água. Não deformam a expressão um só vez, mantendo o sorriso amarelo de sempre estampado logo abaixo do olhar cinza e inflexível.
Certa vez, disseram-me que os olhos são baldes - precisam esvaziar vez em quando para voltar a enxergam com a mesma clareza de antes. Baldes cheios d'água, que não escoam, não despejam conteúdo, são como véu opaco que nos enxergam de ver os pequenos milagres da vida.
O sal da água de lágrimas ali guardada corrói a superfície do balde - arde. Tudo é visto sob o incômodo do queimar do globo ocular. As belezas com as quais nossos olhos são presenteados a cada momento mergulham nesse poço fundo de líquido acumulado e se afogam.
Lágrimas são, em sua essência, indiferenciadas. Guardar alegrias corrói tanto quanto mágoas.
Alegrias nadando incansavelmente para sobreviver, apagadas pelo cansaço de resistir; mágoas lutando para perdurar, enquanto você tenta asfixiá-las.
Há muita verdade na premissa que diz "Quanto menos pessoas souberem, mais feliz você será.", concordo e acredito que aproveitar as próprias alegrias na própria companhia é sugar o mel até o fim. No fundo da alma, onde as palavras conturbadas não chegam, existe o silêncio - matéria-prima que, de mãos dadas com o sal, formam a lágrima. Na lágrima não existem palavras - apenas o silêncio.
Deixar fluir um rio salgado de uma nascente de olhos tristes ou ébrios de felicidade é demonstrar emoções e, ainda assim, continuar em silêncio. É dizer para todo mundo o que lhe aflige ou o motivo do sorriso largo sem nenhuma palavra.
Esvazio sempre meus baldes d'água, deixo-os sempre prontos para receber a próxima chuva torrencial ou os coloco embaixo daquela goteira do telhado que, apesar de tentar tampá-la inúmeras vezes, persiste. Permito que eles encham até a última gota e transbordo - derramando todo o sal e facilitando o encontro de seus grãos microscópios com meus lábios. Limpo os recipientes para poder enxergar sem o granulado branco que enevoa a visão.
Segurar o choro não é sinônimo de força.
Forte mesmo é quem não tem medo de se afogar no rio que corre pela face. A vida é muito curta para que o sal não encontre os lábios.
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