sexta-feira, 25 de março de 2016

Ser adulto


Compreendi o que é ser adulto em uma ida ao banco. Não pelos boletos que estavam em minhas mãos, suadas de preocupação, prontos para serem pagos ou pela responsabilidade que ronda o ambiente bancário, cheio de prazos e juros sisudos. Foi uma tatuagem a responsável por essa compreensão repentina. Explico: enquanto esperava a minha vez de usar o único caixa eletrônico em funcionamento, contemplava as costas de uma moça impaciente. Com os cabelos presos em um coque mal feito, deixou à mostra a frase que eternizara na pele em caligrafia assimétrica. 
"Somos a soma de nossas decisões". Eu já lera essa citação em algum lugar literário, mas, como o tempo de espera estendeu-se para além do esperado, fiquei repetindo-a em busca de um significado. Decisões, pensei, envolvem escolhas e renúncias. Somos, portanto, a soma de nossas escolhas e renúncias. Percebi, naquele momento, que só nos tornamos adultos quando convivemos em paz com a dúvida de nossas decisões. Os adultos sabem que nunca terão certeza absoluta de nada e sabem que só a morte física é definitiva - porque já "morreram" diante de fracassos e frustrações, frutos de suas decisões, e voltaram à vida.
Ao entender que é normal morrer várias vezes em uma única existência, perdemos o medo de errar e, finalmente, crescemos. Ser adulto é, no final das contas, morrer, recuperar o fôlego e ressuscitar incontáveis vezes em um único dia.

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