quarta-feira, 4 de março de 2015

Hoje acordei com saudade de dar aula

Em 2011 descobri o sabor de estar à frente de uma sala de aula. Inexperiente e com medo da reação das pessoas naquelas cadeiras, assumi o compromisso de falar sobre uma das minhas grandes paixões: literatura.
Meu curso de graduação era integral e eu ministrava as aulas num cursinho comunitário no período da noite. Saia de casa às 7h da manhã e retornava quando a última dúvida daqueles que dedicaram um tempo para me ouvir fosse sanada - o ponteiro do relógio, muitas vezes, ultrapassava às 23h.

Após mais de 12 horas fora de casa, eu adentrava aquele pequeno apartamento renovada. Contando os dias para sujar as mãos de giz mais uma vez.

Parece exagero, eu sei. Mas nunca conheci sensação que se aproximasse do término de uma aula de quatro horas sobre Guimarães Rosa. E mais: com os alunos, já esgotados e transbordando informações, procurando suas obras para matar a curiosidade sobre aquela escrita peculiar.

Os professores costumam dizer que há grande dificuldade em prender a atenção dos alunos. Oras, pois então eu tive muita sorte! Sempre existem as exceções, mas delas não consigo me lembrar - lembro mesmo é do rosto e do nome de cada um que assistiu minha aula e mergulhou comigo em cada livro analisado.
Meu coração guardou cada um que convenceu de que meu lugar era perto das palavras e da escrita - guiaram-me para a margem do rio que estou hoje.

Não consigo me referir a eles como alunos, para mim foram amigos com os quais passei horas maravilhosas de discussões. E hoje acordei com saudade.
Faz dois anos que não me posiciono frente à lousa numa sala de aula - sim, porque acho que a denominação "professor" é mera consequência de ocupação espacial, alunos ensinam tanto quanto os detentores do título.

Professor tem um só privilégio na sala de aula e não é o saber mais; é poder, ali da frente, enxergar o olhar interessado dos que escutam e o acender do brilho quando o aluno começa a se apaixonar pelo assunto.

Ah! Fazer um aluno se apaixonar está dentre as melhores coisas do mundo - não posso aqui fazer comparações ou usar metáforas, nenhum recurso linguístico seria capaz de figurar esse sentimento.
Sinto falta da sala de aula. E saudade é aquele bicho alimentado pelo tempo, só tende a crescer de tamanho - o agradecimento é a única forma de prendê-lo para que não escape e fuja na forma de lágrimas.

Por isso quero agradecer a todos que um dia viram em mim a figura de professora e confiaram seus planos futuros às minhas falas - vocês, que podem ler ou não esse desabafo, não foram alunos, foram combustível para que eu nunca perca a vontade de ensinar.

Espero que um dia eu possa encarar uma sala ali da frente de novo - e aprender com ela, tanto quanto aprendi nos dois anos que ocupei essa posição espacial e nunca hierárquica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário