quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Eu, um dia, quis ser princesa

A princesa Leia morreu. Eu costumava brincar de ser a Leia desde quando assisti Star Wars pela primeira vez. Na verdade, Carrie Fisher morreu, mas levou, junto dela, minha primeira convicção de que eu era forte o suficiente para lutar. 
Quando Leia estrangulou Jabba, após ser escravizada, tive a certeza de que as princesas podem ser salvas por si só. E, finalmente, quis ser princesa. As amigas não entendiam porque eu preferia torcer os cabelos a usar tiaras de diamantes e sapatos de cristal. Olhavam torto quando eu me embrulhava em um lençol branco, desejando ser a líder da rebelião.
"Quem é o príncipe da princesa Leia?", perguntaram durante uma brincadeira.
"Ela não tem muito tempo para príncipes, mas gosta do Han Solo, que não é príncipe, mas passeia com ela na Millenium Falcon", diz a resposta gravada em uma daquelas fitas cassetes cheias de memórias. Eu não sabia pronunciar Millenium Falcon, mas sabia que lutar junto é melhor do que ficar estagnada em uma torre rodeada por dragões, esperando salvação.

O machismo é feito erva daninha, brota em todo lugar, inclusive em Leia e em todo o universo Star Wars. Não posso negar. O que posso dizer, é que Leia foi a minha chance de desejar ser princesa.
Em uma sociedade que pasteuriza desejos e papéis, ser princesa, nas brincadeiras infantis, é importante e colabora com a inclusão. Eu lia Cinderela, Rapunzel e Bela Adormecida. Tentava equilibrar aquelas coroas de plástico no topo da cabeça. Desajeitada, deixava cair, atrapalhando a brincadeira. Eu queria ser princesa, mas todas eram iguais demais. E tão diferentes de mim.

Conheci Leia e a angústia de preferir amizades masculinas amenizou, assim como a culpa pela falta de delicadeza e timbre ameno. Entendi, pouco depois de completar uma década de vida, que representatividade, seja ela de gênero, cor ou classe social, importa. Leia me fez princesa e me ensinou que nem sempre um príncipe é prioridade. Às vezes, a gente tem é que liderar a base da Resistência da Nova República Galáctica.
Perdemos Carrie Fisher, a eterna princesa. Que me perdoem as outras intérpretes de Leia, mas fica aqui minha gratidão a Fisher, por ter me mostrado que nem só de romance, brilho e vestidos caros é feita a vida de uma mulher. Fisher me ensinou, em sua atuação, que eu posso ser princesa e líder. Tirou dos meus ombros a pressão de viver um amor perfeito.
"Eu te amo"
"Eu sei"

Está tudo bem.
Não preciso ser salva.
Eu, um dia, já quis ser princesa, a princesa Leia.

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